A Igreja, o Pecado e os Pecadores

18/12/2014 19:00

“Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?” 
1 Coríntios 6:3

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Todas as vezes que exponho o tema do tratamento excessivamente tolerante para com o pecado na Igreja, noto toda uma série de oposições que vão desde o uso errôneo de Mateus 7:1 “Não julgueis, para que não sejais julgados.”, até a assertiva seguinte: ‘irmão, Deus ama a todos’. Bem devemos ler na própria palavra de Jesus em João14:21 “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”

Em Mateus 7:2 a 5 Jesus nos revela que ao julgarmos, seremos julgados com os mesmos critérios que julgamos. Nada mais justo, e que isto reforce nossa responsabilidade na hora de emitir julgamento ou chamar alguém que apresente alguma obra errada diante da comunidade.
Outras vezes não estaremos colocando nossos ‘eus’ em evidência, numa politica de parecer ‘bonzinho’ para a grande maioria que só quer ver ‘desculpados’ os seus erros diante da comunidade em que convivem ? Qual a finalidade desta política, ser aceito e aprovado pelos homens ou servir à causa de Deus? Estaremos sendo condescendentes com a falta de arrependimento ? Estamos oferecendo uma salvação ‘no pecado’ e não ‘do pecado’ ?
Creio também que ao levarmos alguém à correção, não sejamos hipócritas e vejamos se nós, ou nossos pares, também não estamos incorrendo em erro e aceitemos, de nossa vez, a própria correção com bom ânimo.
Não nos descuidemos também da acepção, tanto para ‘menos’ como para ‘mais’, o próprio Jesus diz para julgarmos, porém sem levar em conta o ‘status’ aparente  quando nos diz em João 7:24: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” .

Continuando a leitura de Mateus 7, qualquer um entenderá o zêlo com que o Senhor queria que fosse submetida toda avaliação dos outros, porém esta avaliação deveria ser feita, pois senão poderemos incorrer em outro erro, nos submeter aos ‘falsos profetas’ que entre nós estão para nos ‘devorar’ (v.15).

Ponderemos também os diversos contextos que se referem a obras contra os homens, de efeitos visíveis e maléficos aos irmãos e mesmo à toda uma comunidade, e às intenções do coração que só poderão ser avaliadas pelo juízo divino. Sendo o pecado tolerado em uma comunidade em nome da unidade, poderá fazer ‘perder’ toda a comunidade. Quanto a isto, também nos deixa Deus a seguinte instrução, bem clara em I Timóteo 5:20:

Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.” 

Às vezes a tolerância, outras vezes a intolerância, diante do pecado tem feito nossos jovens caírem nas malhas de satanás e das atrações de babilônia. A rede do Diabo está se enchendo com nossos jovens que são incapazes de lidar sozinhos com as imensas atrações da vida moderna. Aqui mesmo, nesta igreja, podemos ver as baixas imensas que sofremos contra o mal. Precisamos abrir nossos olhos e tratar este assunto com mais união, menos tolerância ao erro e mais amor e cuidados com as falhas e com os faltosos. Atenção, é exigida mais atenção, companheirismo, companhia e afeto cristão aos nossos jovens e, sim, muito mais intolerância com o pecado e com a permissividade do que a que temos demonstrado.

Assim, para não tornar o assunto distorcido por terceiros, ou ter minhas palavras mal entendidas, peço atenção para o texto abaixo tirado do livro ‘Atos dos Apóstolos” de Ellen G. White. É a visão que tenho sobre este assunto que sinto crítico neste momento do mundo:

-…E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus  lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade.” II Tim 2:15, 22-26. 

 O apóstolo advertia Timóteo contra os falsos mestres que se introduziriam na igreja. “Sabe, porém, isto”, escreveu, “que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos… tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” II Tim 3:1-5. 

“Mas”, continuou, “os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as Sagradas Letras, que podem fazer-te sábio para a salvação. … Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” II Tim 3:13-17. Deus proveu meios abundantes para o êxito na luta contra o mal que há no mundo. A Bíblia é a armadura com que nos podemos equipar para a luta. Nossos lombos devem estar cingidos com a verdade. Nossa couraça deve ser de justiça. Na mão devemos ter o escudo da fé, e na cabeça o capacete da salvação; e com a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, devemos abrir caminho por entre as obstruções e embaraços do pecado. 

Paulo sabia estar perante a igreja um tempo de grande perigo. Sabia que uma obra fiel e zelosa devia ser feita pelos que tinham a responsabilidade das igrejas; assim escreveu a Timóteo: “Conjuro-te pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino, que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” II Tim 4:1 e 2. 

Esta solene incumbência a alguém tão zeloso e fiel como era Timóteo é um forte testemunho da importância e responsabilidade da obra do ministro evangélico. Chamando Timóteo ao tribunal de Deus, Paulo lhe ordena pregar a Palavra, não fórmulas e ditos humanos; a testemunhar prontamente de Deus onde quer que se lhe apresentasse oportunidade – diante de grandes congregações ou de limitados círculos, junto aos caminhos e nos lares, a amigos e a inimigos, fosse em segurança ou exposto a dificuldades e perigos, injúria e danos. 

Temendo que a disposição branda e condescendente de Timóteo pudesse levá-lo a esquivar-se de uma parte essencial de sua obra, Paulo exorta-o a ser fiel em reprovar o pecado, e a repreender mesmo com firmeza os que fossem culpados de males graves. Contudo devia fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina”. Devia ele revelar a paciência e o amor de Cristo, tornando claras suas reprovações e reforçando-as pelas verdades da Palavra. 

Odiar e reprovar o pecado, e ao mesmo tempo mostrar piedade e comiseração pelo pecador é uma difícil tarefa. Quanto mais ardentes nossos próprios esforços para manter a santidade do coração e da vida, tanto mais aguda nossa percepção do pecado, e mais decidida nossa desaprovação de qualquer desvio do direito. Precisamos guardar-nos contra a indevida severidade no trato com os que erram; mas precisamos também ser cuidadosos para não perder de vista a excessiva malignidade do pecado. Há necessidade de mostrar-se paciência e amor semelhantes aos de Cristo pelo que erra, mas há também o perigo de se mostrar tão grande tolerância pelo seu erro que ele se considerará não merecedor de reprovação e a rejeitará como inoportuna e injusta. 

Os ministros do evangelho às vezes causam grande dano permitindo que sua tolerância pelo que erra degenere em tolerância pelos pecados, e mesmo participação deles. Assim são levados a desculpar e passar por alto o que Deus condena; e depois de certo tempo tornam-se tão cegos que chegam a louvar aqueles a quem Deus manda reprovar. Aquele que tem suas percepções espirituais embotadas pela pecaminosa tolerância por aqueles a quem Deus condena, em breve estarão cometendo maior pecado pela severidade e rudeza no trato para com aqueles aos quais Deus aprova. 

Por se orgulharem de humana sabedoria, por menosprezarem a influência do Espírito Santo e por desprazer às verdades da Palavra de Deus, muitos que professam ser cristãos e que se imaginam competentes para ensinar a outros, serão levados a voltar as costas aos requisitos de Deus. Paulo declarou a Timóteo: “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” II Tim 4:3 e 4. 

O apóstolo não faz aqui referência a aberta irreligiosidade, mas a professos cristãos que fazem da inclinação guia, tornando-se assim escravos do eu. Tais pessoas estão dispostas a atentar apenas às doutrinas que lhes não repreendam os pecados ou condenem a vida de amor ao prazer. Sentem-se ofendidos pelas claras palavras dos fiéis servos de Cristo, e escolhem mestres que os louvem e adulem. E entre os professos ministros há os que pregam as opiniões dos homens em lugar da Palavra de Deus. Infiéis ao dever, desviam os que a eles vão em busca de orientação espiritual. 

Nos preceitos de Sua santa lei, deu Deus uma regra perfeita de vida; e Ele declarou que até o fim do tempo, esta lei, imutável num jota ou num til, deve manter seus reclamos sobre os seres humanos. Cristo veio para engrandecer a lei e a tornar gloriosa. Mostrou que ela está baseada no amplo fundamento do amor a Deus e amor aos homens, e que a obediência a seus preceitos compreende todo o dever do homem. Em Sua própria vida deu Ele exemplo de obediência à lei de Deus. No sermão da montanha Ele mostrou como seus requisitos vão além dos atos exteriores, e penetram os pensamentos e as intenções do coração. 

A lei, obedecida, leva os homens a renunciar “à impiedade e às concupiscências mundanas”, e a viver “neste presente século sóbria, e justa, e piamente”. Tito 2:12. Mas o inimigo de toda a justiça tornou cativo o mundo e tem levado homens e mulheres à desobediência da lei. Conforme previu Paulo, multidões têm-se desviado das claras e esquadrinhadoras verdades da Palavra de Deus e escolhido ensinadores que lhes apresentem as fábulas que desejam. Muitos, tanto entre ministros como entre o povo, estão tripudiando sobre os mandamentos de Deus.

Assim é insultado o Criador do mundo, e Satanás ri  triunfante aos sucessos de seus enganos.  … -
(
Atos dos Apóstolos pgs.501-504)